quinta-feira, 11 de junho de 2020

Último Pedido



Andando pela rua em mais um dia mascarado como tantos outros que se seguiram, resolvi passar pela pracinha do bairro. Sentei aos pés de uma frondosa árvore, cujo tronco estava ladeado de traços tão eternos quanto efêmeros de amor, estirei me em suas raízes e comecei a recitar, eram alguns versos que acabara de criar. Após um bom tempo, vi um rapaz passar, andava meio estranho parecia querer falar. Vi que rodeou a árvore e sentou um tanto pra lá. Eu logo me aprumei longe, pois a lei poderia me pegar.

Após um instante, o rapaz chegou mais perto e prontamente me perguntou. 

O senhor é um poeta?

Levei um pequeno susto, não é todo dia que se escuta uma acusação tão livre e aberta, pensei comigo.

Fingi que não entendi a pergunta e questionei no que poderia ajudá-lo.
O rapaz de fala embargada e um tanto constrangido comentou que ouviu os meus versos e queria me falar.

Senhor, a minha mãe sempre recitou tantos versos para mim antes mesmo de eu saber ler, ela sempre dizia que as palavras nos fazem crescer e o mundo sem a leitura seria um total desprazer. 

Ela amava os poetas, dizia que eles tinham inspirações Divina de Deus. Tenho certeza que teria adorado te conhecer.

Que lindas palavras de sua mãe, falei em tom empolgado. Como posso conhecê-la?

Na verdade, não mais, você realizou o último pedido em vida dela.

Como assim, perguntei encabulada mente e o rapaz prosseguiu o diálogo.

Minha querida mãe, pediu em seu leito de morte que eu encontrasse um poeta para agradecer por todos os contos, poesias e histórias que ela tanto amava e fora sua companhia até seu último viver.

Enfim, disse o combalido rapaz, agora preciso ir, minha mãe me espera ali na capela, tenho certeza que agora ela está feliz e liberta, podendo seguir em seu descanso sem fim.


Fim

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